segunda-feira, 8 de março de 2010

O globo recusou anúncio do movimento negro


Prezado Sr. Luis Erlanger:

sou jornalista e professor do programa de pós-graduação e da graduação na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Fiz meus doutorado e mestrado em Ciências da Comunicação na USP, com estágios na NYU (Nova York) e pós-doutorado na Freie Universität Berlin, na Alemanha.

Tomo a liberdade de escrever ao senhor como um potencial cliente da área comercial do jornal O Globo (quiçá da TV Globo). Represento aqui setores da sociedade civil organizada que estão tentando veicular, entre amanhã, dia 3, e quinta, dia 4, um manifesto afirmando a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa para pobres, negros e índios. Para isso, desde janeiro estamos recolhendo doações individuais e institucionais em todo o país, conforme pode ser visto em nosso blog.

Por intermédio de uma agência de publicidade parceira, a Propeg, estamos tentando comprar espaço de uma página do jornal O Globo para publicar a peça criada pela mesma Propeg. Apesar de estarmos disposto a pagar, qual não tem sido até este momento a nossa surpresa diante do que aqui vai exposto. A agência tinha negociado, até quinta passada, a publicação com desconto para a ONG Omi-Dùdú. A tabela com desconto de O Globo fixou o valor da publicação em R$ 54.163,20. Na sexta, ao analisar o material, que nada menciona sobre a mídia, o comercial de O Globo informou à agência que o texto é “expressão de opinião”. Por isso, teria de cobrar a “tabela cheia”, elevando aquele valor em 1.000%, para R$ 548.174,00 !!! Ou seja, quer cobrar mais de meio milhão de reais para que a sociedade civil tenha o direito de se manifestar sobre o debate que começa amanhã no Supremo Tribunal Federal!

Gostariamos de contar com suas ponderações e, se for o caso, colaboração no sentido de chegarmos a um acordo para que o anúncio – que foi aceito pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e outros – possa também ser veiculado por O Globo, um jornal de grande prestigio com base na ex-capital da República. Mas por valor razoável, específico para a sociedade civil, no momento em que o fortalecimento da democracia exige a liberdade de expressão e diversidade de opiniões. Já que a diretriz da rede Globo propugna por isto, como deve impor ao movimento social organizado (geralmente depauperado) uma tabela de preços que, por antemão, sabe proibitiva e honerosa mesmo se fosse para uma grande multinacional.

O Globo não deveria ser uma exceção, evitando que os cariocas e os brasileiros que o lêem sejam os únicos prejudicados por impedir tal publicação. Que, adianto ao senhor, de forma alguma visa provocar quem quer que seja. Tanto o manifesto quanto os spots e VTs estão à disposição do senhor, se quiser analisá-los visando colaborar na sua veiculação, seja no jornal O Globo (para a qual pagariamos o valor honesto e realista de R$ 54.163,20), seja na TV Globo (neste caso, o VT, como apoio institucional).

Mui respeitosamente subscrevo-me, no aguardo de sua resposta nas próximas horas em face da exiguidade de tempo do setor comercial de sua empresa.

Atenciosamente,

Fernando Conceição

Comentário

Manteve-se o veto econômico ao anúncio.

By: Nassif
Postado por zcarlos às 10:06:00 AM no blogue contexto livre

Nenhum comentário: