quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Distúrbios em Londres


PUXADINHO DO JADER


Observação: As duas matérias são independentes, foram publicadas em locais e dias distintos. Achei interessante o questionamento de ambas e as uni sob o titulo “Distúrbios em Londres”

O discurso da Britânica


As imagens do discurso de Pearce aos jovens foram captadas por um repórter do jornal The Daily Telegraph, que colocou o vídeo no ar em sua conta no Twitvid, serviço de vídeos para o Twitter.
Até a manhã desta quarta-feira, já havia sido visto 1,56 milhão de vezes. Outras versões do mesmo vídeo no próprio Twitvid e no YouTube tiveram outras dezenas de milhares de espectadores.
A britânica Pauline Pearce, de 45 anos, aparece apoiada sobre uma bengala e dando um sermão a jovens que enfrentavam a polícia, dizendo-se envergonhada com o comportamento deles e afirmando que eles deveriam estar lutando por uma causa e não simplesmente saqueando lojas.
“Isso é sobre um pobre homem que foi morto em Tottenham, não é para se divertir nas ruas e arrebentar a área”, grita ela com os jovens.
“Caiam na real, gente negra.
Caiam na real”, pede ela, que também é negra.
“Façam isso por uma causa. Se estão lutando por uma causa, então lutem por essa p.. de causa”, afirma.
“Vocês todos me deixam passada. Estou envergonhada de ser uma pessoa de Hackney, porque não estamos nos juntando e lutando por uma causa, estamos entrando na Foot Locker (cadeia de lojas de calçados esportivos) e roubando sapatos. Vocês são ladrões sujos”, acusa ela.

Buscado no BBC Brasil

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Tariq Ali: Distúrbios em Londres: por que aqui e por que agora?


Por que será que sempre as mesmas áreas explodem antes, independente do motivo? Puro acidente? Talvez tenha algo a ver com raça, classe social, pobreza institucionalizada ou o simples e cruel dia-a-dia? A coalizão de políticos (incluindo os novos Trabalhistas, que são capazes de formar um governo de unidade nacional caso a recessão continue), com suas ideologias petrificadas, não podem dizer isso, porque os três partidos são responsáveis pela crise. Eles criaram a bagunça.

Eles privilegiam os mais ricos. Eles deixaram claro que juízes e magistrados devem dar o exemplo aplicando sentenças punitivas contra manifestantes encontrados com armas de brinquedo. Eles não questionam seriamente porque nenhum policial foi julgado pelas mais de mil mortes sob custódia desde os anos 1990. Não importa o partido, ou a cor da pele do primeiro-ministro, eles dizem os mesmos clichês. Sim, sabemos que a violência nas ruas de Londres é ruim. Sim, sabemos que saquear lojas é errado. Mas porque isso está acontecendo agora? Por que isso não aconteceu ano passado? Porque descontentamentos crescem com o tempo, porque quando o sistema deseja a morte de um jovem negro oriundo de uma comunidade carente, ele deseja, simultaneamente, se não inconscientemente, uma resposta.

E pode piorar se os políticos e a elite econômica, com o apoio da televisão estatal e das emissores de Murdoch, falharem em lidar com a economia e punirem os pobres e menos favorecidos pelas políticas de governo que eles vêm promovendo pelas últimas três décadas. Desunamisar o "inimigo", em casa e no exterior, criando medo e prisões sem julgamentos, não funciona para sempre.

Se existisse uma oposição séria no país, ela estaria argumentando a favor do desmonte do andaime instável do sistema neo-liberal antes que ele se desintegre e prejudique ainda mais pessoas. Ao redor da Europa, as características exclusivas que distinguiam centro-esquerda de centro direita, conservadores de social-democratas, desapareceram. A mesmice da política oficial priva os segmentos menos privilegiados do eleitorado, ou seja, a maioria.

A juventude negra desempregada ou semi-empregada em Tottenham e Hackney, Enfield e Brixton, sabe bem que o sistema está contra ela. O blá blá blá dos políticos não tem qualquer impacto nessas pessoas, ainda menos nas que estão provocando incêndios nas ruas. O fogo será extinguido. Haverá algum inquérito patético ou outros para avaliar porque Mark Duggan foi morto a tiros, desculpas serão ditas, flores da polícia serão depositadas no funeral. Os manifestantes presos serão punidos e todos darão um suspiro de alívio e seguirão em frente. Até que aconteça de novo. 

  • Tariq Ali é um escritor e ativista paquistanês e escreve periodicamente para o jornal britânico The Guardian e para a revista New Left Review. Artigo originalmente publicado no LRB blog. 

Buscado no Cappacete

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